Adoção do Ensino de [IA] no Currículo Escolar

Nov 25, 2024Por Teixeira Júnior
Teixeira Júnior

Introdução

A Inteligência Artificial (IA) consolidou-se como uma força transformadora na economia global e nas relações sociais, redefinindo indústrias e modos de vida. Contudo, sua integração no campo educacional ainda enfrenta desafios significativos, como dilemas éticos, desigualdades de infraestrutura e a necessidade de adoção em larga escala.

Neste artigo, discutiremos a inclusão da IA no currículo da educação básica, não como uma simples commoditie tecnológica para personalização ou edtechs, mas como uma ferramenta para o desenvolvimento de habilidades essenciais, por meio de situações-problema e integração prática no currículo.

O conteúdo explora as razões pedagógicas, econômicas e políticas para incorporar o ensino de IA na educação básica brasileira, destacando o papel da Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial (ONIA) como uma iniciativa pioneira nessa jornada.

Silvio Meira: cientista-chefe da TDS, professor extraordinário na CESAR School, distinguished research fellow da Asia School of Business e professor emérito do Centro de Informática da UFPE. Fundador do @portodigital, o maior parque tecnológico do Brasil.

IA e o Futuro do Trabalho: A Urgência de Ações Integradas

A regulamentação da inteligência artificial avança de forma desigual entre os blocos econômicos, influenciando diretamente a inovação e o mercado de trabalho. Estimativas indicam que setores relacionados à IA podem movimentar cifras trilionárias até 2030, criando oportunidades significativas, mas também desafios inéditos. No entanto, regulamentações rígidas, embora essenciais para garantir segurança ética e jurídica, podem limitar a competitividade e retardar o progresso tecnológico, com impactos profundos que podem se estender a outros setores, como a Educação.

Essa interconectividade levanta uma questão crucial: de que forma a regulação influencia a formação da força de trabalho e o desenvolvimento curricular na educação básica de um país? A resposta está na destreza de formular políticas educacionais e tecnológicas que capacitem as próximas gerações para enfrentar um mercado de trabalho em constante transformação.

A futurista Amy Webb descreve os indivíduos de hoje como parte da Geração T — a geração da transição —, marcada por mudanças profundas impulsionadas por um superciclo tecnológico. Uma geração que está vivendo a era da convergência entre inteligência artificial, ecossistemas conectados e biotecnologia, solicitando maior adaptabilidade, criatividade e resiliência para prosperar diante das possibilidades que se apresentam.

SXSW 2024: o que é a geração T apresentada por Amy Webb.

Educação Básica: Um Pilar Estratégico

A Educação Básica deve ser o foco de nossos esforços, preparando as novas gerações para enfrentar um mundo cada vez mais complexo, que ultrapassa fronteiras e impacta todos os setores.

A implementação de IA vai além da busca por competitividade global; é uma necessidade urgente que exige ações imediatas. A educação, como base da formação humana, precisa desempenhar um papel ativo nesse processo, promovendo discussões práticas e urgentes sobre IA e o futuro do trabalho.

Para concretizar essa visão, é fundamental criar currículos que desenvolvam habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas e uso ético de tecnologias. Dessa forma, garantiremos que os cidadãos do futuro estejam preparados para prosperar em um cenário dinâmico e imprevisível.

IA no Currículo da Educação Básica: Projeto Smart Bin

Desde 2017, a China demonstra compromisso com a integração da IA em diversos setores, incluindo a educação básica. O Next Generation Artificial Intelligence Development Plan estabelece diretrizes para ensinar habilidades práticas, como pensamento crítico e resolução de problemas, desde os primeiros anos escolares.

Um exemplo notável aplicado na China é o Smart Bin, um projeto educacional que utiliza lixeiras inteligentes para ensinar conceitos de sustentabilidade e tecnologia aos alunos. Essas lixeiras, equipadas com sensores e algoritmos de IA, classificam automaticamente os resíduos em recicláveis e não recicláveis a partir dos comandos dos alunos.

No ambiente escolar, o projeto Smart Bin serve como um exemplo prático de conexão entre o aprendizado teórico à resolução de problemas reais, motivando e incentivando os alunos a aplicar conhecimentos em IA, programação e meio ambiente.

Block-based Programming Assignment in Class

Além disso, o projeto é um modelo de proposta interdisciplinar que integra ciências naturais, matemática e tecnologia em atividades práticas. O uso do Smart Bin demonstra como a China não apenas ensina IA, mas também utiliza suas aplicações para abordar questões globais, como sustentabilidade e economia circular, preparando os alunos para o mercado global e para desafios sociais.

Building Blocks of Learning

Um modelo ou metodologia altamente apropriado é o que organiza o aprendizado de IA em oito blocos de aprendizagem (building blocks). Essa estrutura permite uma progressão lógica, partindo de conceitos básicos e avançando para aplicações práticas mais complexas.

No contexto da ciência do aprendizado, esse termo enfatiza que o conhecimento é construído de forma incremental, com cada "bloco" fornecendo a base para o próximo. Ele se alinha a teorias como o "Scaffolding" (andaime educacional), que também aborda o aprendizado progressivo e estruturado.

  • Bloco 1: Introdução aos fundamentos, como a classificação de resíduos.
  • Blocos 6 e 7: Desenvolvimento de projetos interativos avançados, como a programação e personalização de um Smart Bin.
  • Bloco 8: Conclusão com uma revisão integrada, consolidando todo o conhecimento adquirido ao longo do processo.

Smart-Bin: Building Blocks of Learning

Integrando IA à Educação Básica: Olimpíada de Inteligência Artificial

O Brasil vive um momento crucial para equilibrar a criação de um marco regulatório ético com a necessidade de desenvolver um currículo que prepare os estudantes para demandas globais. Nesse contexto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) oferece um ponto de partida, destacando na Competência Geral nº 5 a importância do uso crítico de tecnologias digitais, essencial para o desenvolvimento de habilidades em IA desde a educação básica.

Iniciativas como a parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo estão materializando essa visão. O currículo proposto, baseado em habilidades e competências, visa atender às demandas de olimpíadas de tecnologias, robótica e IA, enquanto fomenta um ecossistema de inovação e empreendedorismo no ensino básico.

A Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial (ONIA) vem complementar essas ações, incentivando o uso prático da IA no ambiente escolar e conectando alunos e professores a novas oportunidades tecnológicas. Ao alinhar essas iniciativas a políticas públicas robustas, parcerias estratégicas e formação docente, o Brasil tem a oportunidade de liderar a transformação educacional, promovendo equidade, inovação e preparação para a economia digital.

Impacto Esperado

  • Promover a interdisciplinaridade: Unir ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) a contextos locais.
  • Desenvolver competências do futuro: Preparar alunos para o mercado global, com habilidades práticas em IA.
  • Fomentar a inclusão tecnológica: Democratizar o acesso à tecnologia, especialmente em escolas públicas.

Uma proposta para o Brasil inovar e liderar o desenvolvimento de competências tecnológicas no ensino básico, alinhando-se às tendências globais e criando soluções adaptadas às necessidades locais.

Mais do que uma competição, a ONIA atua como um eixo transversal, promovendo a integração de currículos alinhados aos saberes do ensino básico e às vivências do cotidiano dos alunos, enquanto desenvolve competências essenciais para o futuro tecnológico por meio de uma colaboração estratégica entre escolas, pesquisadores universitários e centros/células de inovação tecnológica.

Comissão Organizadora: Olimpíada Nacional de Inteligência Artificial

Conclusão e Perspectivas

A integração da inteligência artificial na educação básica representa uma oportunidade estratégica para o Brasil se posicionar como líder global em inovação educacional e tecnológica. Iniciativas como a ONIA mostram que é possível alinhar práticas pedagógicas às demandas contemporâneas em um ecossistema engajador, preparando uma força de trabalho que não apenas consuma, mas também desenvolva tecnologias.

Investir em políticas públicas sólidas, parcerias estratégicas e currículos inovadores será essencial para transformar esse potencial em realidade, superando desafios como a desigualdade no acesso a recursos tecnológicos e a formação continuada de professores.

O futuro será moldado não apenas pela tecnologia, mas pela capacidade de preparar as pessoas para utilizá-la de maneira ética e responsável. A educação básica é o ponto de partida, e o Brasil tem diante de si a oportunidade de trilhar um caminho de protagonismo global.

Referências